sábado, 11 de fevereiro de 2012

"vai se esfregar na sua mãe"

                 
                      



Eu uso metrô sempre que posso, e não sei se é uma benção ou uma maldição precisar dele, sei apenas que a condição humana é testada ao extremo em algumas viagens.

Começando pela intimidade, em que as pessoas procuram fixar a atenção nos detalhes da parede ou do teto do vagão, nos anúncios, avisos, ou em qualquer coisa que evite cruzar o olhar com outra pessoa. E essa preservação persiste até no suplício dos vagões lotados nos horários de rush, mesmo a poucos centímetros da boca de outra pessoa, ou já em contato físico com as várias partes dos corpos ao seu redor, inclusive áreas erógenas, além da respiração, axilas, espirros, tosses e peidos alheios, que algum filho da puta sempre solta nessas horas.

Acho que ninguém se olha pra não dar inicio a um exótico bacanal com diferentes raças, idades, credos, tipos físicos, status, gêneros...

Mais incrível é que tem gente que reclama e até briga por causa da proximidade. Porém, para brigar, só se os braços já estiverem para cima, pois do contrário, é impossível levantá-los no bloco sólido, inabalável, estável, que se forma com a lotação. Briga só de cuspe.

Aliás, desentendimentos são muito comuns, as queixas variam muito, mas na maioria das vezes é sobre a truculência dos outros passageiros.

Meu amigo me contou que uma senhora quase jogou sua esposa no chão quando eles seguiam para o trabalho. Depois de reclamar, a esposa do amigo ouviu daquela senhora, em alto e bom som, pronunciado com as sílabas sarcasticamente separadas, um malcriado "PO-BRE-MA".

Também já presenciei esses barracos entre duas mulheres de salto alto, bem arrumadas, cabelos leves e com balanço e que sabiam pronunciar "problema" corretamente, que se xingavam como crianças de CIEPS.
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Quase fui linchado uma vez, quando ao descer na minha estação, uma retardada que deveria esperar as pessoas saíram para entrar, me empurrou de volta para o vagão, acabando por embolar a alça de sua bolsa no meu celular preso na cintura - isso já foi moda.

Para não perder o aparelho, eu tive que puxar a bolsa para soltá-la. Mas a mulher não entendeu assim e começou a gritar achando que eu a estava roubando. Ainda bem que eu consegui soltar o celular e pular fora do vagão antes da porta fechar.

Outro dia um cara queria brigar com outro porque ele estava perto demais da sua namorada. O rapaz acusado e mais fraco, para evitar que a situação piorasse, fez coro aos pedidos da namorada do outro perguntando se ele estava pensando na tensão e desespero dela, caso eles "se embolassem na porrada" - palavras dele. Com isso, não houve briga e o rapaz continuou "amigavelmente" atrás da namorada do outro.

Para ser acusado de tarado, basta ser homem. Soube de outro amigo que passou a maior vergonha  porque uma mulher começou a gritar para ele se esfregar na mãe dele, e ele nem gosta da fruta.

Ainda tem a estação de "transferência para linha 2 e trens da Supervia" que contraria a Teoria da Evolução de Darwin, pois as pessoas atropelam velhos, crianças, grávidas, cadeiras de roda, polícia, bandido, Deus, a própria mãe deles... tudo que tiver na frente, um verdadeiro estouro da boiada louca.

Nunca vou esquecer a primeira vez que eu presenciei isso, que por azar estava na porta de saída deles, e fui arrastado por alguns metros do vagão que estava até conseguir sair pela lateral da correnteza. Mas outras pessoas não tiveram a mesma sorte e sumiram naquele tsunami cruel que ignorava os seus desesperados pedidos de socorro e braços estendidos para quem estava no vagão, que nada podiam fazer a não ser rezar por eles. Só de lembrar, meu coração dispara e começo a tremer.

No metrô, já vi bêbados ridículos falando merda, casais apaixonados quase acasalando, gente fofocando sobre colegas de trabalho, cornos se lamuriando, tarados fotografando mulheres distraídas, azaração homo e heterosexual, já assisti aulas de direito, administração, conversas calorosas sobre futebol, big brother, política e claro, o próprio metrô.

Apesar desse cataclismo, continuo utilizando esse hospício móvel porque toda essa tortura dura menos do que duraria em outro transporte e porque ainda não presenciei ninguém cagado, ainda.


6 comentários:

Anônimo disse...

Adorei o post e gostei ainda mais de conseguir comentar. Ufaaaaaaaaaaaa...que alivio!! beijo

Juli

Renan Helinho disse...

kkkkkkkkkkkkk mais uma vez muito bem definida a sua tese ... lhe ofereço a oportunidade de andar de trem no horario de rush, pode ter certza que é pior do que o metro e muito mais historia rss!!! sensacional rss

Marcelo Keiser disse...

Transporte coletivo é sempre uma aventura que gera todo tipo de emoção!

Abraço


http://marcelokeiser.blogspot.com

Anônimo disse...

Sensacional!!Porém Baltazar, te convido a enfrentar a Linha 02 do Metrô, partindo da PAVUNA, pois você enfrenta a LINHA 01, garanto que na LINHA 02, você vai presenciar absurdos ainda maiores!!

Ass:Augusto//Álvaro.

Anônimo disse...

Retrato da realidade!
Achei que vc não se lembraria kkkkk
Ass: Alves

Anônimo disse...

huahahuahaua


sergio, como.. bobão. rsrsrs


gente cagada eu já vi... conta neném ?


Desiree