quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

paixão doentia



De manhã quando acordo, ela já está em cima. Quando vou dormir, está à minha espera na cama, sedenta e ansiosa.

Luto em vão durante a noite para resistir às suas insaciáveis investidas, que me cansam sem chance de descanso.

Me persegue pela casa, em cada cômodo, a qualquer hora, obcecada por mim.

Louca, sobe pelas paredes, se pendura no ventilador de teto e paira sobre mim faminta.

Quando finalmente me tem, gruda sua boca em mim com delicadeza e discrição, sem se importar com a humilhação de, às vezes, eu nem percebê-la, xingá-la ou tratá-la com violência física.

Sem respeito próprio, se submete a essa agressão moral, porque não controla o desejo pelo meu corpo, da testa ao dedão do pé.

Depois de satisfeita, vai e deixa sua marca para eu lembrar dela. E, sempre que lembro, tenho vontade de tê-la nas mãos e esmagá-la.

Seria melhor para todo mundo se ela fosse como o macho da espécie dela, que se alimenta de seiva das florezinhas, mas as fêmeas de aedes aegypti gostam mesmo é de sangue quente.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

nos fundos, somos todos iguais



Quando uma pessoa é chata, recebe logo alcunhada de "pentelho". Tais pelos, além de se tornarem sinônimo de pessoa inconveniente e criança bagunceira, também exprimem algo desprezível e sórdido.

Mas esses pelos não se resumem a um chumaço de cabelo duro, inútil e com má fama, porque há quem enxergue neles grande fonte de desejo sexual, utilidade para proteção e aquecimento natural dos genitais, desde que estejam no lugar que deveriam estar e não encontrados nos alimentos.

Porém, são bem mais do que isso, são talvez uma forma de "castigo" ou "benção" de Deus, que os colocou em todo ser humano, rico ou pobre, feio ou bonito, bom ou mal (menos algumas tribos indígenas, sei lá porquê) para mostrar, quem sabe, que nos fundos, somos todos iguais.

Pode ser também uma espécie de placa de sinalização para alertar sobre o cuidado que se deve ter com o que eles envolvem com tanto excesso, que quando usado irresponsavelmente, a vida do irresponsável fica tão enrolada quanto eles.

Grande problema hoje em dia é tê-los, as mulheres que o digam, pois preferem serem torturadas com cera quente e arrancá-los em seguida, a ter que aceitá-los.

Mas quem tem mais razão em extirpá-los do corpo são os homens, principalmente quando ocorre uma ereção fora de hora com tudo embolado, não restando nada a fazer a não ser se curvar e  implorar pra morrer.

Graças a eles, filmes de décadas anteriores brilharam, onde a ousada figura triangular nas mulheres era entendido como "completamente" nua.

Há quem curta esses caras e ainda brinquem com eles, se depilando de forma a deixar um bigodinho de Chaplin, um coraçãozinho, alguma letra do alfabeto, um jogo da velha, o nome da mãe, uma santa cruz... até os menos preocupados, chegados ao natural, que criam verdadeiros gorilas por opção.

Os adeptos dessa arte devem sofrer tendo que se contentar em mostrar sua "obra" para poucas pessoas, com exceção daqueles que acabam ignorando o alerta falado no 4º parágrafo desse post, e acabam mostrando além do que deveriam e, fatalmente, se enrolando tanto quanto a "placa de sinalização".


O que mais surpreende é que todos, dos que odeiam, aos que amam os tais pelos, incluindo você que está lendo isso agora, todos, sem exceção, já tiveram a auto-estima reafirmada na puberdade com o nascimento dos primeiros fios.

Por isso, pense neles com mais carinho, não os considere uma praga, a não ser que tenham hospedeiros neles.

E deixa de ser pentelho.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

"vai se esfregar na sua mãe"

                 
                      



Eu uso metrô sempre que posso, e não sei se é uma benção ou uma maldição precisar dele, sei apenas que a condição humana é testada ao extremo em algumas viagens.

Começando pela intimidade, em que as pessoas procuram fixar a atenção nos detalhes da parede ou do teto do vagão, nos anúncios, avisos, ou em qualquer coisa que evite cruzar o olhar com outra pessoa. E essa preservação persiste até no suplício dos vagões lotados nos horários de rush, mesmo a poucos centímetros da boca de outra pessoa, ou já em contato físico com as várias partes dos corpos ao seu redor, inclusive áreas erógenas, além da respiração, axilas, espirros, tosses e peidos alheios, que algum filho da puta sempre solta nessas horas.

Acho que ninguém se olha pra não dar inicio a um exótico bacanal com diferentes raças, idades, credos, tipos físicos, status, gêneros...

Mais incrível é que tem gente que reclama e até briga por causa da proximidade. Porém, para brigar, só se os braços já estiverem para cima, pois do contrário, é impossível levantá-los no bloco sólido, inabalável, estável, que se forma com a lotação. Briga só de cuspe.

Aliás, desentendimentos são muito comuns, as queixas variam muito, mas na maioria das vezes é sobre a truculência dos outros passageiros.

Meu amigo me contou que uma senhora quase jogou sua esposa no chão quando eles seguiam para o trabalho. Depois de reclamar, a esposa do amigo ouviu daquela senhora, em alto e bom som, pronunciado com as sílabas sarcasticamente separadas, um malcriado "PO-BRE-MA".

Também já presenciei esses barracos entre duas mulheres de salto alto, bem arrumadas, cabelos leves e com balanço e que sabiam pronunciar "problema" corretamente, que se xingavam como crianças de CIEPS.
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Quase fui linchado uma vez, quando ao descer na minha estação, uma retardada que deveria esperar as pessoas saíram para entrar, me empurrou de volta para o vagão, acabando por embolar a alça de sua bolsa no meu celular preso na cintura - isso já foi moda.

Para não perder o aparelho, eu tive que puxar a bolsa para soltá-la. Mas a mulher não entendeu assim e começou a gritar achando que eu a estava roubando. Ainda bem que eu consegui soltar o celular e pular fora do vagão antes da porta fechar.

Outro dia um cara queria brigar com outro porque ele estava perto demais da sua namorada. O rapaz acusado e mais fraco, para evitar que a situação piorasse, fez coro aos pedidos da namorada do outro perguntando se ele estava pensando na tensão e desespero dela, caso eles "se embolassem na porrada" - palavras dele. Com isso, não houve briga e o rapaz continuou "amigavelmente" atrás da namorada do outro.

Para ser acusado de tarado, basta ser homem. Soube de outro amigo que passou a maior vergonha  porque uma mulher começou a gritar para ele se esfregar na mãe dele, e ele nem gosta da fruta.

Ainda tem a estação de "transferência para linha 2 e trens da Supervia" que contraria a Teoria da Evolução de Darwin, pois as pessoas atropelam velhos, crianças, grávidas, cadeiras de roda, polícia, bandido, Deus, a própria mãe deles... tudo que tiver na frente, um verdadeiro estouro da boiada louca.

Nunca vou esquecer a primeira vez que eu presenciei isso, que por azar estava na porta de saída deles, e fui arrastado por alguns metros do vagão que estava até conseguir sair pela lateral da correnteza. Mas outras pessoas não tiveram a mesma sorte e sumiram naquele tsunami cruel que ignorava os seus desesperados pedidos de socorro e braços estendidos para quem estava no vagão, que nada podiam fazer a não ser rezar por eles. Só de lembrar, meu coração dispara e começo a tremer.

No metrô, já vi bêbados ridículos falando merda, casais apaixonados quase acasalando, gente fofocando sobre colegas de trabalho, cornos se lamuriando, tarados fotografando mulheres distraídas, azaração homo e heterosexual, já assisti aulas de direito, administração, conversas calorosas sobre futebol, big brother, política e claro, o próprio metrô.

Apesar desse cataclismo, continuo utilizando esse hospício móvel porque toda essa tortura dura menos do que duraria em outro transporte e porque ainda não presenciei ninguém cagado, ainda.