terça-feira, 26 de junho de 2012

oh yeah








Aproveitei as férias para pedalar, que é uma coisa barata, prazerosa e que me faz muito bem.




Apesar do esforço de percorrer a longa distância que estipulei, tenho praticado quase todos os dias, pois a sensação de bem estar que sinto no término do percurso, é indescritível. Além do caminho ser bem arborizado, o clima agradável e paisagens e animais novos a cada dia.


Só não me sinto melhor, porque sempre me assusto com as ultrapassagens humilhantes, dos ciclistas profissionais quando voam por mim com suas bicicletas importadas, trajes, capacetes, óculos e outros acessórios mais caros que a minha própria bicicleta, ou minha própria vida..


Numa dessas manhãs, enquanto remoía minha inveja contra um desses ciclistas perfeitos, que apareceu e desapareceu repentinamente, fui surpreendido por um susto ainda maior que me fez esquecer de vez o ressentimento por eles.




De repente percebi o vulto de um carro preto se aproximando por trás e senti um choque na região do quadril que logo ficou molhado. Na hora pensei que o líquido fosse sangue e o choque, um carro desgovernado, ou um tiro, ou um assalto... ou os três juntos. Nessas horas, só dá pra imaginar desgraça.




Mas o inconfundível cheiro de gema de ovo, esclareceu que se tratava de um bando de babacas de carro que me escolheram como alvo para suas brincadeiras de playboy.




Após me acertarem, gritaram alguma coisa e sumiram.




Passei do susto para o alívio de ter sido só um ovo e não as desgraças da minha cabeça; desse alívio para a raiva dos imbecis que precisavam do sexo oposto com urgência, e da raiva para o prazer de imaginar eles repetindo essa odiosa brincadeira com o ciclista perfeito que me ultrapassou momentos antes.




Com esse último pensamento, pedalei até melhor.




Foi quase uma satisfação sexual.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

os mortos que riram



Sempre tive o maior respeito por velórios e morte. Nessas horas as pessoas expressam emoções e sentimentos tão sinceros, que as fortalecem para a realidade da vida.

Mas mesmo essas situações não estão livres de gafes, umas até dignas de serem contadas nesse blog.

Pois bem:

. Uma amiga me disse que foi ao seu primeiro enterro com seus 18 ou 19 anos e, que nessa época, estava mais interessada em curtir sua juventude, e que nem de longe passava qualquer vestígio relacionado à morte pela sua cabeça avoada.

Foi acompanhar uma parente - não sei se tia ou irmã mais velha - no enterro do patrão, que em vida era um respeitado pai de família e bom patrão. Tão direito que ninguém suspeitava do contrário, até aquele dia.

Minha amiga não estava preparada para tanta emoção e, desabou em lágrimas exageradamente, a ponto de receber condolências como se fosse da família do morto.

Incontrolável como estava, precisou de calmantes e  chegou até a ter princípios de desmaios algumas vezes.

Se tornou o centro das atenções, roubando a cena até mesmo da viúva.

A tal parante, que não lembro se era tia ou irmã mais velha da minha amiga, implorava para ela parar com aquilo, que todos já estavam olhando torto pra ela e comentando que ela devia ser amante do "velho cínico que gostava de ninfetinhas... quem diria!"

A parente da minha amiga, se retirou com ela do velório, antes do enterro propriamente dito. Mas já era tarde, a reputação ilibada do defunto já estava na lama.


. Um dia morreu a mãe de um amigo do meu irmão.

Para dar apoio ao amigo, meu irmão foi ao cemitério, levando com ele um outro amigo em comum deles, conhecidíssimo pelas suas loucuras fora de hora. E aquela foi uma delas.

Enquanto cumprimentava o amigo que perdeu a mãe, meu irmão ficou de costas para o caixão, só vindo a saber o que o amigo maluco estava aprontando pelo outro que ficou de frente e que perguntou sem entender: "Cara, o que você está fazendo?"

Foi então que meu irmão se virou e viu todos os presentes olhando respeitosos o seu amigo maluco, que nunca foi religioso, completamente concentrado, com a mão direita espalmada na testa da defunta, a outra mão estendida  para o céu, de olhos fechados  e balbuciando alguma coisa estranha.

Ao ver a tal "entrega", só restou ao meu irmão correr prendendo a gargalhada para longe da capela.


. Pior do que isso, aconteceu no bairro que meu tio morou e que só tinha figuras alopradas. Uma delas era um sujeito que vivia metido em merda o tempo inteiro, que alguém sempre tinha algum motivo para bater nele, que sua casa era um botequim e o seu dia, era a noite.

Mas, mesmo as más companhias tem más companhias como companhia,  e uma delas veio a morrer, não se sabe se de morte matada ou morrida. O que se sabe é que ao tomar conhecimento do acontecido, o tal vacilão ficou desesperado e, tarde da noite invadiu o cemitério onde o corpo estava sendo velado para o enterro no dia seguinte.

Numa cena memorável, ele invade a primeira capela, se debruça sobre o caixão e grita, em meio ao pranto,  para o corpo no caixão:

_ Por quê, cara? A gente sempre foi parceiro em tudo, já fizemos muita merda juntos,  já fumamos muita maconha juntos, já comemos muita mulher juntos, já cheiramos muito pó juntos... e agora você vai embora, seu filho da puta, por quê??

Enquanto ainda estava debruçado sobre o caixão chorando, alguém, discretamente, cochicha em seu ouvido alguma coisa, que o faz parar o pranto:

_ Ah, não é essa capela não?! Desculpa aí, pessoal.

Vai para a capela ao lado, abandonando o corpo de uma velhinha que ele tinha impregnado com seu bafo de cachaça e uma mistura de lágrima, baba e secreção nasal,  vindo a repetir tudo de novo, mas, pelo menos, para o defunto certo.

Diante dessas loucuras emocionadas, os mortos devem chegar no outro plano "mortos" de rir. Com exceção do velhinho que, graças à minha amiga, deve tentar se explicar em todo centro espírita que consegue baixar.