sexta-feira, 1 de março de 2013

culpado oculto



Há pouco tempo, fui ao banco conversar com a gerente sobre um problema na minha conta. Estava sendo atendido na sua "sala" com divisórias de vidro escuro que permitiam ver da janela do 5º andar, onde estávamos, os outros prédios lá fora.

Naquele horário da tarde, o implacável sol estava se refletindo enorme e redondo nos prédios à frente e fazendo entender a necessidade do vidro fumê da divisória da "sala" da gerente e na janela do prédio que ainda tinha uma persiana opaca e translúcida, que ajudava a suportar aquela luz inconveniente. 

No entanto, com toda essa proteção, o reflexo do astro rei se refletia forte para quem estava sentado ao lado da janela, como eu e a gerente.

Mais curioso é que aparecia o reflexo de três imagens redondas, brilhantes e formando um triângulo. Talvez um físico pudesse explicar esse fenômeno, mas pra mim, inspirava uma oportunidade de ficar rico e famoso de uma hora pra outra.

Perguntei para gerente se ela já tinha reparado naquele reflexo e ela disse que apenas superficialmente, suficiente para perceber o incômodo que era para quem trabalhava naquela posição.

Então sugeri que poderíamos espalhar que aquelas luzes eram naves extra-terrestres de guerra em formação de ataque, nos espreitando enquanto aguardavam o sinal para lançar seus raios mortais e vaporizar tudo. 

Colocaríamos suas fotos na internet, alertando que os "visitantes" não eram pacíficos, que chupar cabras, abduzir pessoas para experiências bizarras e produzir híbridos com mulheres inseminadas, era só o começo. 

Inventaríamos que sua aparência variava de um branquelo cabeçudo e baixinho, para uns moluscos cheios de tentáculos e até umas vespas gigantes, dependendo da região que foram vistos, de acordo com o relato emocionado e traumático das suas vítimas.

Providenciaríamos uma data para eles acabarem com o mundo e  lançaríamos livros, kits-sobrevivência, armas contra os ets, refúgios subterrâneos, fantasias de carnaval, camisas e bonés, além de uma seita pró-visitante com locais estratégicos para contatos imediatos de terceiro grau.
  
Promoveríamos palestras e debates nas universidades e nas respeitadas emissoras de tv com ufólogos, físicos, astrônomos, religiosos, psicólogos, exotéricos e governo.

Este último sempre carregaria a fama de que já sabia de tudo, mas continuaria omitindo à população para não gerar pânico.

Responsabilizaríamos os ets, pelos terremotos, furacões, tsunamis, deslizamentos, enchentes, secas,  aquecimento global, camada de ozônio, extinção dos dinossauros, fome,  guerras, doenças, calor, frio, inflação, greve... ainda sequestros e assassinatos sem pistas, filhos de adultério, e qualquer coisa que precise de um culpado oculto.

E mesmo se descobrissem a farsa, já seríamos ricos demais pra irmos presos e o mito já caminharia com as próprias pernas.

Entre gargalhadas, a gerente concluiu: "Você deve ser um et."