domingo, 7 de abril de 2013

no mínimo, diferente







Passar pela Central do Brasil e ver algum tumulto se imagina logo que se trata de alguma briga, atropelamento, assalto, tiroteio, comício ou um culto evangélico e, às vezes, tudo isso junto ao mesmo tempo. Porém, o que o meu amigo me contou foi, no mínimo, diferente.

O horário eu não me lembro, mas tinha o sol como testemunha, além dos curiosos que formavam um tumulto que crescia cada vez mais. Estranhamente, depois que as pessoas descobriam o motivo do tumulto, a expressão tensa, típica das confusões da Central, dava lugar à descontração.

Foi assim também que meu amigo descreveu que se sentiu, ao invadir o tumulto e observar que era uma briga de casal na qual o homem, visivelmente constrangido e transtornado, tentava calar  a "mulher" à força. A "coitada" de joelhos, descabelada, aos prantos, com os braços abertos evitando se defender da violência do outro, gritava: "Bate, filho da puta, bate nesse corpo que te pertenceu, nesse corpo que você usou, que você satisfez suas nojeiras, bate mais, covarde... "

Quanto mais o homem batia e sacudia pelos cabelos aquela figura com traços masculinos, alta,  magra, negra, de cabelos alisados, vestido como puta, mais alto ela berrava enquanto voltava para sua posição indefesa:: "Bate mais, bate nesse corpo que te deu felicidade, que foi escravo do seu prazer..."

"Cala a boca, desgraçado!" Rosnava em vão, o homem violento.

Infelizmente meu amigo não ficou até o final do drama. Mas provavelmente deve ter tido um desfecho tão inesperado quanto o início, como o travesti usando sua metade homem e surrando seu amor, ou o machão amolecendo e terminando com uma linda cena romântica entre os dois ajoelhados, abraçados e chorando em plena Central do Brasil, afinal lá, o incomum é comum... ou eles sendo assaltados por algum pivete.