sábado, 17 de dezembro de 2011

carnaval esquecível



                  


Nos meus tempos de solteiro, fui uma vez passar o carnaval com uns amigos numa cidade que,  nesta época, virava  uma espécie de Salvador por causa da animação dos trios elétricos, blocos e muita azaração.

Ficamos na casa dos familiares de um dos amigos, que não se importavam com a bagunça que fazíamos, pelo contrário, parecia que casa cheia e barulhenta era o combustível da alegria deles.

Como em todo carnaval, tivemos muitos momentos engraçados e tensos, protagonizados por mulheres ciumentas, bêbados que não sabiam beber, gente que acordava totalmente pintada, histórias de pegações frustradas, e tantas outras que renderiam felizes lembranças se não fosse por um mancha irremovível.

Ocorreu um fato neste carnaval, que tacitamente, todos concordamos em não comentar enquanto vivêssemos. Porém, como a maioria não se vê há anos, e muitos perderam contato completamente, tomei coragem para quebrar o silêncio.

Teve um bloco das piranhas, no qual todos participamos vestidos a caráter e engrossando a massa suada, alcoolizada e ridiculamente engraçada.

Como se não bastasse um bando de homens se esforçando - outros nem se esforçavam tanto, já tinham um dom natural - para imitar mulher, tinha outras excentricidades, tais como fantasias de baianas, ou peitos e bundas de plástico vagabundo, biquinis fio-dental e tantas outras fruto da criatividade dos foliões. 

O mais ousado era um magricelo que vestia uma mini-saia com um mecanismo que ao levantar a saia, apresentava um pênis enorme por baixo feito de papelão, pintado precariamente e mal acabado, o que arrancava muitas gargalhadas do público.

Mas essa não foi a reação da então namorada de um dos amigos que estava por lá: ciumenta a ponto de estar grudada ao namorado até no meio do bloco, ela o largou ao ver aquele falo mal feito.

Em vez de gargalhar como todos, ela fixou seriamente um olhar estranho, hesitou por um tempo, e terminou por agarrá-lo fortemente.

Claro ficou naquele momento, que ela não havia feito o que fez como forma de recriminação por ofensa à moral e aos bons costumes, ao contrário, o que a levou aquele extremo era tão primitivo, que era anterior ao senso de pudor ou moral que hoje temos. Era mais uma demonstração do instinto atropelando valores e conceitos.

A impressão que eu tive foi que, abruptamente, a bateria se calou junto com as pessoas e, todo o planeta silenciou boquiaberto diante daquelas mãos famintas, agarradas animalescamente ao pênis de papelão do rapaz, devassado na sua dignidade.

Um mal estar tomou conta de todos: do namorado dela, do dono do pau, de quem presenciou aquele impulso e dela mesma após se recuperar da  irresistível excitação do momento.

Ninguém nunca comentou sobre o ocorrido, acho que nem o namorado cobrou alguma explicação e até nos esforçamos para nem lembrar daquela cena carregada de constrangimento.

E assim, nosso carnaval foi jogado nas profundezas do esquecimento até esse momento.



3 comentários:

Priscila disse...

Primeiro entrei aqui para seguir o blog, mas a "paradinha" de seguir não está carregando =(
Vou acompanhar com calma os fatos deste blog... farei comentários depois que eu ler! Beijos

Renan Helinho Sas disse...

Eu sabia que teu passado te condenava!!! kkkkkkk

Anônimo disse...

Esse Baltazar, a cada dia que passa, nos surpreende mais!! Baltazar, o Agamenon perto de você não é nada!!Rsrsrsrs!!

ASS:AUGUSTO/ALVARO