terça-feira, 13 de dezembro de 2011

vovó guerreira

A avó de um amigo, nos seus quase 80 anos ou mais, fez uma coisa que eu nunca imaginaria que alguém nessa idade faria.

Não me lembro se meu amigo quando contou, falou se era manhã, tarde ou noite, quando apareceu uma ratazana na casa dela levando o terror para as mulheres daquela família que gritavam como loucas.

A confusão acabou acordando a pobre idosa que cochilava numa poltrona na varanda. Assustada,  perguntou o que estava acontecendo e lhe contaram que uma ratazana do tamanho de um gato estava dentro de casa correndo de um lado para o outro.

Instantaneamente - até hoje eu tento imaginar e não consigo - a frágil vovó que não ouvia direito, nem enxergava mais como antigamente, que tinha rugas no rostinho curtido pela idade, que se movia lentamente e com dores nas juntas, mudou a expressão de vovó dependente dos parantes, para a matriarca que fora um dia e, num salto, se pôs em pé como o Superman naquela pose de mãos na cintura e a capa tremulando ao vento, e perguntou: "Cadê ela?"

Alguém apontou para o banheiro.

A guerreira anciã, sem desviar os olhos do cômodo onde a indesejada visita estava, pegou sua perna de três que era usada para reforçar as portas das casas antigas, e falou com ar de Charles Bronson: "Deixa ela comigo".

Ignorando as netas e filhas que se jogavam em seu caminho implorando para ela não cometer aquela insanidade, ela entra no banheiro, olha uma última vez para a plateia, antes do combate e tranca a porta.

Os próximos momentos, foi puro suspense, começando por um breve silêncio, seguido por sons de passos arrastados e lentos, interrompidos bruscamente por coisas caindo,  se quebrando, vidros e louças se estilhaçando, porrada seca na parede, grunhidos, tanto da velha como do roedor... e por fim mais silêncio.

Do lado de fora, as mulheres se abraçavam chorando, temendo o pior. No entanto, as mais descontroladas que choravam mais alto ou chamavam "mãe" ou "vó", eram advertidas com gestos impacientes para que fizessem silêncio, pelas outras que não desviavam a atenção daquela porta.

De repente ela se abre, e lá de dentro sai a avó do meu amigo meio despenteada e ofegante, que pára na porta, olha para as mulheres e fala: "Pode tirar o corpo", voltando para sua poltrona enquanto arrumava o cabelo.

E quando perguntei por que aquele viadinho do meu amigo, pelo menos, não ajudou a avó a dar um fim no rato, ele respondeu: "Minha avó é da roça."




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