sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

todo mundo é um pouco maluco




Ontem entrei no prédio com minha filha e mais uma vez apostamos corrida da porta até o elevador, pisando apenas nos quadrados pretos do piso xadrez da portaria.

Essa brincadeira se repete, praticamente, desde quando ela aprendeu a correr, e sempre que está de bom humor.

Parece mania de criança, mas já me flagrei só pisando nos pisos pretos ou só nos claros da portaria, ou usando degrau sim, degrau não da escada, prendendo a respiração no elevador até chegar no meu andar, ou me equilibrando nos canteiros estreitos que cercam algumas árvores nas calçadas...

Algumas dessas manias são até úteis, como apostar corrida com as pessoas na rua quando estou com pressa, acaba diminuindo o atraso.

Isso, claro, sem elas saberem.

Do contrário, vira uma guerra de nervos, como ocorreu no dia em que ultrapassei um pirralho com uniforme de escola, que não satisfeito, tomou a frente novamente. Eu como adulto, apelei para minha condição e mostrei para ele o que uma perna maior é capaz de fazer, e o deixei pra trás novamente.

Mas subestimei a obstinação infantil que fez o moleque me alcançar e sorrir desafiadoramente, como quem diz "eu que vou ganhar".  E ganhou, mas só porque eu me deixei vencer pela vergonha de me imaginar correndo pela rua com um garoto no meu encalço, aquela peste.

Quando eu me dava conta que fazia essas coisas, me passava pela cabeça que eu tinha algum transtorno, já que eu não era mais criança para justificar essas doidices - como diria a minha avó.

Até que um dia, aconteceu o que eu mais temia:  eu caminhava de olhos fechados da minha porta
até o elevador no corredor do meu andar, e um vizinho ninja apareceu sem fazer barulho, me surpreendendo com a pergunta "Tá tudo bem?"

Hiper-mega-super (usando o palavreado da minha filha) sem graça, tentei disfarçar o indisfarçável, dizendo que... nem lembro o que eu disse..

Compadecido com o meu constrangimento, meu vizinho interrompeu minha tentativa de explicar aquele sei lá o quê, me dizendo que ele uma vez foi surpreendido pela mulher quando também andava de olhos fechados.

Foi aí que eu vi que todo mundo é um pouco maluco.

Com o tempo ouvi pessoas que confessaram que também não pisavam nas pedras portuguesas pretas do calçadão de Copacabana, ou evitavam a todo custo as linhas que separam um piso de outro, outros esmagavam folhas secas sempre que podiam, que se apoderavam de irresistíveis gravetos das ruas ou na mão de outros maníacos,  gente que conta  degraus quando sobe escada,  que a cada passo, vai separando sílabas de palavras, que marcam o ritmo de alguma música batendo os dentes ... são tantas que me sinto até normal com as minhas. Tem até gente que chupa roda molhada no varal.

Além do plástico bolha, que eu nem preciso falar.

Acho que essas pequenas manias não chegam a ser um transtorno obsessivo-compulsivo, mas a criança dentro da gente dando sinal de vida e querendo brincar.

E, sinceramente, a falta de explicação para essas manias é só mais uma coisa sem explicação nesse mundo inexplicável.

O que importa mesmo é satisfazê-las, para ter a deliciosa sensação "eu consegui", que aquele pirralho que eu deixei ganhar a corrida teve no meu lugar, aquele viadinho.

3 comentários:

Renan - Helinho disse...

Eu nunca tive divudas, do quanto vc é louco kkkkkkkkkkk ... tu nao é puro nao kkkk me divirto

Entre razões e emoções ... disse...

aquele viadinho?! Hahaha vc ficou com medo do desafio do fedelho!!

Anônimo disse...

Brincando de apostar corrida com um fedelho... pisava em seu calcanhar seria mais produtivo. Essa é a vantagem da idade, a malandragem!!!!!

Abraços ciclista
Fábio